![Em Gaza, as pessoas vivem nas ruínas das suas antigas casas - Crédito: UNRWA](https://cdn.progresso.com.br/img/pc/780/530/dn_arquivo/2024/07/agora6_2.jpg)
Os intensos combates em curso forçaram cerca de 84 mil pessoas a fugir da Cidade de Gaza em questão de dias e cortaram o acesso a um importante centro de distribuição de ajuda no norte do enclave, segundo informações de agentes humanitários da ONU divulgadas nesta segunda-feira.
O êxodo do distrito de Shujaiya, no leste da Cidade de Gaza, ocorre após dias de bombardeios intensos relatados pelo exército israelense, cujos tanques foram avistados "cerca de 100" metros da estrada Salah El Din, o principal eixo norte-sul.
Destruição “apocalíptica”
De acordo com a Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, as pessoas nesta área relatam estar “comendo folhas de árvores ou farinha para sobreviver”.
A especialista de Comunicação da Unrwa, Louise Wateridge, descreveu a destruição nas áreas afetadas como “apocalíptica”. Segundo ela, a maioria das pessoas perdeu as suas casas, total ou parcialmente, e teve que fugir “com pouquíssimos pertences, basicamente com o que eles podem carregar nas mãos”.
A representante da Unrwa ressaltou que muitas pessoas perderam membros de suas famílias. Além disso, afirmou que “as mulheres grávidas e as pessoas com deficiência estão entre as mais vulneráveis, uma vez que não podem deslocar-se facilmente durante os deslocamentos forçados”.
A violência impediu a agência de acessar seu centro de distribuição no bairro de Tuffah, na Cidade de Gaza, “devido à proximidade com a linha da frente” do conflito.
Uma criança espera para encher recipientes de água em Gaza - Foto: UNRWA
Entrega limitada de assistência
Das cerca de 84 mil pessoas atualmente deslocadas, cerca de 10,6 mil encontraram abrigo num total de 27 locais, incluindo escolas da Unrwa, onde estão disponíveis postos de saúde temporários. Outros deslocados estão hospedados em escolas públicas, edifícios e áreas abertas.
A agência da ONU já distribuiu água, pacotes de alimentos e farinha. A distribuição de fraldas, colchões e lonas está planejada para esta segunda-feira.
Wateridge observou que parte do combustível necessário para as ações da agência foi entregue no domingo através da cerca que separa Gaza de Israel. Uma quantidade limitada de diesel também entrou no enclave para alimentar geradores hospitalares e usinas de dessalinização, mas as necessidades continuam enormes, segundo profissionais humanitários.
A última atualização do Escritório da ONU de Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, as restrições de acesso, a insegurança e os confrontos em andamento continuam “impedindo significativamente” a entrega de assistência e serviços humanitários essenciais em Gaza.
Missões humanitárias impedidas e negadas
A agência informou na sexta-feira que as limitações impactam a “ajuda alimentar e nutricional, cuidados médicos, apoio a abrigos e serviços de água, saneamento e higiene para centenas de milhares de pessoas necessitadas”.
O Ocha destacou que as autoridades israelenses facilitaram menos da metade das mais de 100 missões de assistência humanitária planejadas para chegar ao norte de Gaza em junho.
Segundo a agência, “o restante foi impedido, teve acesso negado ou foi cancelado por motivos logísticos, operacionais ou de segurança.”
Uma família é vista sentada ao redor de uma tigela de feijão em sua tenda em Rafah, no sul da Faixa de Gaza - Foto: Unicef/Abed Zagout
Cena de devastação no sul
Comentando a operação militar israelense em andamento em Rafah, que começou no mês passado, Louise Wateridge afirmou que o sul de Gaza “agora se assemelha às cenas apocalípticas do norte e da Cidade de Gaza”.
Ela afirmou que na condição de maior agência de ajuda da ONU no enclave, a Unrwa continua fornecendo “o máximo possível de serviços humanitários e suprimentos, entregando alimentos, assistência médica e até mesmo atividades de aprendizagem para crianças”.
No entanto, a representante da agência explicou que está se tornando “quase impossível para a ONU fornecer qualquer tipo de resposta devido ao cerco imposto por Israel”.
Segundo Wateridge, faltam combustível, suprimentos e segurança, deixando as equipes de ajuda com muitas dificuldades, enquanto “lutam para sobreviver durante esta guerra”.
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